23/06/2003

GENTE IMPORTANTE, GENTE NINGUEM

Amigo que eu nao conheço, acho que nao vou mais te encontrar. Que sorriso é esse? E esse jeito de acender cigarro? Em cinco minutos sou seu melhor amigo, nem ouvi a sua voz! E essa intimidade? Esse sentir bem em estar aqui perto de mim? Gostaria de saber mais, o que voce faz, mas como, se nem sei quem é voce! E daqui cinco minutos voce paga a conta, se levanta e vai embora.
E nao volta.
Agradece, sorriso de despedida. Mas que poder é esse de me conquistar assim? Como eu fiz pra te tocar assim tao fundo? Voce também é meu amigo. Mas sabe quem sou eu? Vai doer. Està doendo jà. Como é possìvel que um simples ciao machuque tanto, se nao sei quem é voce?


Ontem no pub encontrei um meu provavel melhor amigo. E uma provavel melhor amiga. Tudo bem, eles deveriam ter no màximo uns 15 anos, eu tenho 22. Mas que estranho! Foram suficientes aqueles vinte minutos e duas frases do tipo "voces querem mais alguma coisa?", "tem fogo?" pra que, quando foram embora, eu me sentisse mal. Fiquei pensando sobre o nada, sobre o tempo, sobre eles, sobre o destino, sobre mim. Sobre a falta que me fazem. "Falta que me fazem"?!! Como assim?! E fiquei pensando no quanto a realidade pode ser mudada, fràgil. Me senti tocado ontem, e acho que uma coisa assim nunca tinha acontecido comigo, ou se aconteceu eu nem cheguei a perceber.
Pessoas ninguém importantes. E tantas pessoas importantes ninguém. Matei tanta gente, deixei tantos corpos prà tràs. Tantas pessoas, tao importantes, que hoje nao sao sò ninguém, feridas que cicatrizaram.
Matei muitos amigos meus.
Matei minha mae.
Meu pai.
Meu irmao.
Meus parentes.
Falar com eles é quase tao irreal como ser o melhor amigo de gente que eu nao conheço.
Adorovocesmefazemtantafaltaqualoseunomequemévocedeondevoceéporquenaoeu, um neologismo, um homem.

Nenhum comentário: